terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Cap 3 - Prisão domiciliar

Da porta me levantei depois de alguns minutos, estava com muita vontade de tomar um banho, ver televisão, comer algo, ligar para meus pais e saber se estavam bem.
Cheguei em meu quarto, peguei a minha toalha vermelha e fui direto para o banheiro, ao ligar o chuveiro, percebi que não tinha água quente, logo lembrei do ocorrido, na praça que deve ter danificado toda a energia do setor, tive que tomar banho gelado.
Ao terminar me vesti e fui ate a cozinha, comi algo que havia ali, um pão com um café frio, porque a geladeira não podia se abrir, por causa da falta de energia, tinha estragado muita coisa lá dentro, e conseqüentemente um mal cheiro insuportável.
Me enchi com aquele pão mesmo, fui para meu quarto, e chegando lá deitei me na cama, e me cobri com o edredom e tentei dormi, mas apenas cochilei, os gruídos daquelas coisas lá fora era tão amedrontador que eu não sabia pensar em outra coisa a não ser ele.
Meu medo era constante, as vezes olhava pra fora e ficava ali na janela olhando para eles que passavam no portão, de um lado para o outro, as vezes ficavam parados mais de hora num lugar só.
Tentei ligar pra minha família e o telefone só dava fora de área, e cada vez eu ficava mais aflito e mais entediado, a única coisa que me deixava quase que o dia todo tranqüilo era meus livros que eu tinha, era muitos mesmo, de terror, suspense, ação, ficção, romance, parecia uma biblioteca.
Todo dia eu fazia a mesma coisa, levantava comia umas 2 bolachas e um pouco de água, porque não tinha suco nem café mais, e o leite já tinha estragado, lia um livro, e na hora do almoço comia mais umas 2 bolachas com água, sem falar que chegou uma hora que acabou a água não sei por qual motivo.
Desde então não tomei mais banho, não tomava muita água, porque a única água que tinha era do filtro, que no Maximo dava pra três dias se eu fosse tomar normalmente, mas eu tomava por dia um copo e olha lá, pra não passar cedo, e quando chovia eu pegava a água da chuva pra beber e ate tomar banho.
A minha situação era dificiu, a comida também estava acabando, tinha algumas bolachas somente, eu estava mais magro acho eu uns 6 a 7 Kl, por não comer direito, eu tinha perdido a noção do tempo já, não sei que estava ali fazia mês, ou semanas, ou apenas dias, estava eu ali apenas tendo força pra pensar, e toda hora pensava em como estaria meus pais, meus amigos, e se Ricardo tivera mesmo conseguido chegar até o shopping.
Foi então que tive a idéia de pegar um caderno antigo e fazer dele meu diário, se alguém me encontrasse iria ler o que passei aqui pra sobreviver, comecei a escrever, escrevi tudo, desde que acordei de madrugada e vi os policiais sendo atacados ate agora no momento em que estou quase morrendo, de fome.
A sorte foi que eu achei uns enlatados na pensão que eu havia esquecido, tinha ate muita coisa, umas salsichas, uns milhos, palmito, bastante coisa em conserva, eu abria um a cada dia, e as vezes nem abria comia era bolacha mesmo, quando eu comia era algo tão bom, eu me sentia tão feliz.
Mas eu sabia que aquela comida não ia dar para o resto da vida, sabia que uma hora eu iria ficar sem comida e sem nada mais, e iria morrer de fome em breve.
Por isso eu economizava o Maximo, a água que vinha dentro dos enlatados eu tomava pra acabar coma cede que era muita, aquela água era salgada mais era a única que eu tinha, então tomava mesmo assim.
Numa dessas idas a pensão pra pegar uma lata de milho deixei uma caixa de ferramenta cair e fez um tremendo barulho, que conseqüentemente, fez com que os mortos vivos ficassem de alerta para minha casa, eu olhei pela janela e eles estavam lá olhando para minha casa, como se esperassem algo aparecer, ou algum barulho novamente para eles atacarem.
Eu fiquei ali na janela parado feito estatua durando muito tempo, eles não descansavam, pareciam mesmo zumbis, mas logo depois de umas duas horas eu acho que eles começaram a saírem e andarem de volta a rua, eu fiquei muito aliviado.
Mas mesmo depois que eles saíram do portão eu fiquei ali parado olhando para eles na rua, todos ali, andando sem sentindo, não pensam, não falam, não fazer nada além de grunhir.
Eu voltei para meu quarto cabisbaixo, com a lata de milho em conserva na mão, sentei-me na cama e comi o milho e tomei a água que havia dentro de frasco, aquilo foi minha alimentação para o dia todo, porque os alimentos estavam acabando e eu estava somente a alguns dias, ou umas semanas, não sei bem quanto tempo.
Tudo era como uma copia do dia anterior, tudo igual, não tinha nada de novo, sempre os mesmos livros para ler, sempre as mesmas comidas, sempre o mesmo cansaço, nada mudava, apenas minha fome que era muita, chegou a um ponto que eu não conseguia mais me levantar de tanta fome.
Foi então quando resolvi, tirar minha própria vida, mas pensei bem e não tive coragem, pensei em minha família, em meus amigos, pensei em ter alguma chance de saída dali.
Resolvi então de que seria de um jeito ou de outro eu iria morrer, então que eu morresse feliz, fui ate a pensão e juntei todas as comidas que tinha na casa, deu mais ou menos comida pra uns 2 a 3 dias, pra eu comer decentemente.
No primeiro dia, eu comi bastante, comi com vontade, enchi a barriga e dormi ate melhor do que nos outros dias, eu já estava até voltando e ler, tava feliz, fiquei por um bom tempo, na janela vendo aquelas criaturas passando, e imaginando se eu tivesse como matá-los.
Já no segundo dia, eu fiquei continuei comendo bem, comi bastante e ate fiz alguns exercícios no meu quarto, achei em meio a bagunça de meu guarda-roupa álbuns de foto antigas, tinha fotos minhas quando eu era pequeno, fotos da família, parentes.
Fiquei ali lembrando cada coisa, e nas fotos que eu não estava ficava imaginando como era aquele tempo, e o quanto aquelas pessoas eram felizes e muitas vezes brigavam e ficavam chateadas.
Mas eu sim estava passando por algo ruim, e em tem como reclamar, preferi viver meus últimos dias de vida com alegria e bastante felicidade, estava ali comendo muito, não era tudo coisa boa, mas era o que eu tinha pra me satisfazer, fiquei pensando em tudo que já havia feito na vida.
Nas mancadas, nas namoradas que já tive, nos amigos e nas brigas que fiz por aí, em meus tios, pensei em tudo, pensei em toda coisa que fiz de errado, se eu tivesse feito diferente se eu tivesse feito com mais vontade.
Por um momento eu dei fé que eu estava prestes a morrer mesmo, dizem que quando a gente começa a ver a nossa vida toda como num filme é sinal de que estamos perto de morrer.
Eu pensei que esse “filme da minha vida” iria passar como num relance do nada, mas na verdade, eu era o diretor, estava ali, parado, juntando fatos, lembranças, desastres, tudo que eu conseguia lembrar colocava no papel do meu caderno, que acabara feito de diário.
Quando terminei de escrever fui dormir para no outro dia, provavelmente meu ultimo dia de vida, fazer de tudo para ser um grande dia.
Naquele dia levantei cedo, olhei para o sol que já estava ate alto aquela hora do dia, era mais ou menos umas 11:25 da manha, não sabia se o relógio da cozinha estava certo, mas essa era a hora que ele apontava.
Me levantei, procurei em meu guarda-roupa a melhor roupa que eu tinha, me arrumei peguei a arma e o facão que Ronaldo tinha deixado pra mim, e coloquei em meu sinto.
Sentei na cama e estava ali com apenas algumas bolachas e umas latas de conservas, comi tudo pois estava com muita fome, aquela ia ser a minha ultima refeição antes de morrer, depois de estar totalmente “feliz” me levantei e olhei tudo em minha volta, meu quarto, meus livros, minhas roupas, os álbuns de fotografia da família.
Passei pela casa toda olhando cada canto e desta vez relembrando como era quando estavam aqui com a casa cheia, todos da família, aquela bagunça que eu ficava grilado, mas que no fundo eu gostava, até chorei um pouco ao relembrar das risada que dava na sala, ou na área de serviços.
Naquele momento eu estava preparado pra morrer, abri a porta da frente e fui em direção ao portão, eu naquele estante meu coração queria sair pela boca, tudo parecia estar em câmera lenta, meus passos no chão dava pra ouvir, as batidas do meu coração que estavam aceleradas, o grunhido dos mortos que ao me verem estavam vindo em direção ao portão, não haviam muitos mas os que tinham ali estavam quase derrubando o portão.
eu levantei a minha mão com o facão e ao descer acertei o braço de um deles, o braço foi ao chão, e eu percebi que aquilo não era tão terrível assim, como eu pensei ao ver Ronaldo fazendo.
Quanto mais eu batia, quanto mais eu cortava, mais eu queria matar aquelas coisas, senti algo que nunca tinha sentido, era algo louco de se imaginar, alguns desses mortos que eu estava dilacerando, eu talvez reconhecia, não me era estranho, eu via tudo o que estava acontecendo como num filme, pois estava tudo em câmera lenta.
Em meio a isso tudo o grande portão de minha casa foi aberto, ele não agüentou a pressão dês quase 20 mãos o empurrando.
Essa foi a hora mais critica daquele momento, pois agora não havia o que impedir daqueles mortos me morderem, pois eles estavam entrando e correndo pra cima de mim, era uma coisa de louco.
Eu não sabia como fazia aquilo mas eu cortava tudo que chegava perto de mim, era fácil, eles não desviavam de mim, eles apenas vinham, era sangue pra todo lado, eu estava ali correndo de lado a lado matando cortando, e desta vez eu peguei a arma que tinha com apenas 12 balas e atirei em alguns, como nunca havia pegado em uma arma, errei muito, mas foi o bastante para matar uns dois ou três deles.
E continuei a matar eles, o incrível era que eles só morriam quando eram acertados na cabeça, eu já tinha matado bastante deles, quando lá fora na rua vi o que seria o fim de minha vida, havia muitos deles lá, uns 13 e eu somente esperei que eles olhassem pra mim e corressem para dentro e me matassem.
Mas o que aconteceu em seguida foi no mínimo inesperado, quando eu já havia entregue minha vida e já não tinha mais força pra lutar um grande caminhão chegou atropelando a maioria deles, desceu do carro dois caras matando a pauladas e a facão o restante que não tinha caído ou morrido.
Foi em meia a essa bagunça que ouvi uma voz conhecida gritando:

-anda logo seu molenga corre pra cá, entre logo poha.

Quando olhei era a Ricardo, ele estava dentro do caminhão mas eu não conseguia me levantar, estava em choque, veio até mim dois caras e me levantaram para dentro do caminhão.

-cara você é doido, você queria morrer é? Te deixo uns dias dozinho e você faz bagunça cara.
Eu olhei para Ricardo e pensei comigo, como ele conseguiu vim até aqui, e quem são essas pessoas, para onde estou indo.

-Pra onde estamos indo Ricardo? Perguntei ainda deitado.

-estamos indo para qualquer lugar, é uma longa historia cara, sente-se que irei te contar tudo.

Eu me sentei no chão mesmo, era um caminhão grande, aonde nos passávamos éramos vistos pelos zumbis, mas como estávamos rápidos não éramos alcançados.

-tudo bem me conte o que está acontecendo, e alias, você não tinha ido para o shopping?

- sim eu tinha ido para o shopping, alias eu cheguei ate o shopping, o problema e o meu erro foi exatamente ter ido lá, na verdade, o shopping estava lotado de mortos em volta, todos querendo entrar lá, e por sorte encontrei esses caras que estavam parados em um posto reabastecendo para fazer uma viajem, então resolvi passar aqui e pegar você.

-tudo bem, mais pra onde iremos agora?

-isso é uma pergunta que não se cala, na verdade, tenho duas coisas para te falar, uma boa e uma ruim, qual quer ouvir primeiro?

-fala logo, larga de besteira. Disse eu me encostando na parede do caminhão.

-a boa é que só Goiás foi infectada por essa praga, e a ruim é que ouvimos falar que talvez o governo terá que limpar tudo para que isso não se espalhe pelo mundo.

-mas como assim limpar?

-limpar no sentido de... EXPLODIR TUDO.

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